Monthly Archives: January 2009

All About Jazz Italy review by Vincenzo Roggero

cf-1242Sean Conly – Re:Action (CF 124)
Il brano iniziale, il celeberrimo “Gazzelloni“ di Eric Dolphy, è l’unico non originale degli undici presenti ma fornisce chiare indicazioni su quale sarà il climax dell’intero album. Che sarà caratterizzato da musica rigorosa, che nulla concede allo spettacolo, si direbbe in termini calcistici, ma va subito al sodo, sfrondando leziosità e numeri da circo.
Interprete di Re:Action, l’album in questione, un quartetto anomalo, ritmica e doppio sax, formato da due musicisti ormai affermati, Tony Malaby e Pheeroan Aklaff, e due emergenti, Michael Attias e Sean Conly, quest’ultimo anche in veste di principale compositore.

La scrittura aperta e al contempo ricca di riferimenti storici costituisce terreno ideale per l’operare dei due fiati: solido, scuro, robusto, roccioso, già un classico quello di Malaby, guizzante e malandrino quello di Attias.

Vi è molta libertà in Re:Action, libertà di pensiero e di azione, vi sono brillanti sezioni nelle quali i quattro musicisti riescono a viaggiare sulla stessa lunghezza d’onda in maniera compiuta e qualche zona d’ombra nella quale il fluire musicale appare un poco farraginoso. Manca il brano memorabile, il pezzo che si ricorda e ti rimane incollato alla pelle ma Re:Action rimane un buon esempio della vitalità che contraddistingue certo jazz americano.
http://italia.allaboutjazz.com/php/article.php?id=3623

All About Jazz review by Troy Collins

cf-131Steve Adams Trio – Surface Tension (CF 131)
Steve Adams is best-known as a long-term member of the San Francisco Bay Area-based Rova saxophone quartet. Over the past three decades Rova has become a highly respected institution, courtesy of an impressive range of collaborative projects, from work with the Kronos Quartet and pianist Satoko Fujii to multi-media efforts like “Glass Head.”

Membership in an intensely focused partnership like Rova has obvious benefits, and while Adams’ two decade long tenure with the group has yielded incredible opportunities, it has also limited his solo output. Other than a few duo recordings with contrabassist Ken Filiano and multi-instrumentalist Vinny Golia, his own discography has been relatively sparse. Surface Tension, then, is a welcome glimpse into Adams’ personal aesthetic.

Adams is joined by Filiano and drummer Scott Amendola on this rare trio recording—a varied studio set that veers from the austere to the coruscating. Like-minded peers in the adventurous West Coast scene, Filiano and Amendola reveal a deep-seated rapport with Adams that lends a conversational air to their interactions. Whether navigating freely improvised or fully notated compositions, their congenial interplay sounds inspired and effortless.

Alternating horns throughout the session, Adams unveils a range of sonorities and timbres culled from a variety of woodwinds, from sopranino saxophone to bass flute. Each instrument is used to excellent effect in contrasting contexts, weaving a diverse and texturally rich mosaic of sound.

His bold baritone saxophone cuts a deep swath through Filiano and Amendola’s pneumatic downbeats on “The Another Form in Time Voice” and “Equilibria,” ratcheting up the energy level with brash, muscular flurries. Filiano exceeds his requisite role as timekeeper and harmonic anchor, plying sinuous arco glissandi on “Upper and Lower Partials,” and unleashing a percolating salvo of ebullient pizzicato on “Squeamish” and “Squelch.” Amendola’s crisp rhythms and steady cymbal accents keep the trio focused, whether navigating the oblique contours of “Equilibria” or shading the atmospheric “Little Ballad” with gossamer washes.

Adams’ introspective side is revealed on the bass flute driven numbers “Upper and Lower Partials,” “Little Ballad” and the spectral title track. Unfurling at a glacial pace, these meditative Asiatic tone poems brim with hushed tones, resonant bass harmonics and scintillating cymbal accents. The album is not limited to this dynamic chiaroscuro however. “Squeamish” is a funky, abstract post-bop vehicle for Adams’ soulful tenor and “Squelch” is a conventional swinger replete with traditional chord changes. Alternating between sopranino and baritone, Adams elicits a squall of dissonant multiphonics and expressive cries on “Cacophony (for Vinny Golia),” ending the album with a churning vortex of blistering energy in tribute to the legendary West Coast scene leader.

Surface Tension is a rarified view into the mind of one of the West Coast’s most admired ensemble members. Considering Adams’ limited discography outside of Rova, makes this session all the more valuable.
http://www.allaboutjazz.com/php/article.php?id=31713

Time Out Lisboa review by José Carlos Fernandes

cf-1061Michael Dessen – Between Shadow and Space (CF 106)
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Neste trio, Michael Dessen (trombone e computador) é líder e compositor, mas quem brilha é Christopher Tordini (contrabaixo) e Tyshawn Sorey (bateria). As peças estruturadas alternam com atmosferas esparsas e exploração de texturas – e se nestas Sorey se revela um percussionista abracadabrante, as peças não conseguem ser mais do que um intermezzo. O espectáculo está antes em “Restless Years”, com um contrabaixo obsessivo à volta do qual a bateria tece intrincada teia, ou em “Anthesis”, que abre com um soberbo solo de Tordini, que, com a ajuda de Sorey se transforma num groove sinuoso. O trio ganharia se Dessen passasse mais tempo a soprar do que a produzir borborigmos digitais – embora a névoa sonora que fecha o CD tenha algum encanto.

Time Out Lisboa review by José Carlos Fernandes

cf-1044Jason Stein A Calculus of Loss (CF 104)
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O mais próximo que este disco oferece de uma pulsação regular é um groove de blues manco em “Miss Izzy”. Nos restantes temas o percussionista Mike Pride está claramente mais interessado em explorar texturas e atmosferas – o que faz com grande sensibilidade e sentido de oportunidade. O facto de no lugar usualmente reservado ao contrabaixo estar um violoncelo – a cargo de Ken Davis – não contribui para a ortodoxia rítmica nem para uma pulsação robusta. Jason Stein começou por ser guitarrista de rock e blues e só quando ouviu Eric Dolphy percebeu que o seu destino estava no clarinete baixo. Claro que tendo sido empurrado para o clarinete por Mestre Dolphy a sua abordagem ao instrumento não é nada convencional. Em “Miss Izzy” Stein extrai dele um grito lancinante e estrangulado que deixará estarrecido quem do clarinete só conheça a faceta Benny Goodman. “167th St. Ellen” soa como uma família desavinda, com o violoncelo, usualmente associado a sonoridades calorosas, a uivar como um possesso. Já “Caroline and Sam” é pura evanescência, o que dá ideia da amplitude emocional que este trio consege explorar.
Jason Stein, que é talvez mais conhecido pela participação no grupo Bridge 61, um dos muitos projectos do workoholic Ken Vandermark, baptizou este seu grupo como Locksmith Isidore, em homenagem ao seu avô Isidore Stein, um serralheiro nova-iorquino que tinha o hábito de guardar o dinheiro dentro de um sofá. O Calculus of Loss do título não está relacionado com a crise financeira do crédito subprime, mas terá a ver com a contabilidade feita por Isidore ao que perdia por ter o dinheiro no sofá em vez de estar a render no banco. Já o preço a pagar por este CD de conteúdo insólito e desafiador está longe de se poder contabilizar como perda.

Time Out Lisboa review by José Carlos Fernandes

cf1051Luís Lopes Humanization 4tet (CF 105)
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Até 31 de Dezembro pode acontecer muita coisa, mas nada impedirá a estreia do Humanization 4tet de ser um dos discos do ano, no que ao jazz português diz respeito. Ainda que o mérito não seja exclusivamente português, já que a guitarra de Luís Lopes e o saxofone tenor de Rodrigo Amado têm a companhia do contrabaixo de Aaron González e da bateria de Stefan González, ambos norte-americanos. Os dois González são filhos do ilustre trompetista Dennis González, cuja carreira recente tem vindo a ser amplamente documentada pela Clean Feed, e possuem uma experiência musical eclética, que inclui passagem pelo punk. As suas múltiplas influências fundem-se numa secção rítmica que alia o músculo do rock à flexibilidade do jazz. A abertura de horizontes é também característica de Rodrigo Amado e Luís Lopes. O primeiro tanta navega sem mapa na improvisação livre – nomeadamente com os Lisbon Improvisation Players – como se aventura no hip hop mutante dos Rocky Marsiano. Quanto ao líder, não é guitarrista para jurar apenas por Wes Montgomery e é admirador confesso de Jimi Hendrix e Jimmy Page.

Da confluência destas quatro mentes nasceu uma música tensa, angustiada e de cores sombrias, que evoca, nos trechos de groove regular, o mundo sonoro dessa obra-prima negligenciada que é Pariah’s Pariah, de Gary Thomas. Embora seja autor de todos os temas, Luís Lopes reserva para si mesmo um papel discreto, deixando o primeiro plano aos seus parceiros, sobretudo a Rodrigo Amado, que surge em grande forma.

O tema de abertura, “Cristadingo”, possui um ímpeto avassalador e poucos terão coragem de interromper o fluxo sonoro antes do final de “4 Small Steps”, o tema de fecho. E muitos anotarão o nome de Luís Lopes na lista dos nomes a vigiar de perto.

Time Out Lisboa review by José Carlos Fernandes

cf-1021Scott Fields Freetet Bitter Love Songs (CF 102)
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Há uns tempos um artigo de opinião no Público verberava (injustamente) a banalidade dos nomes dos temas de jazz, quando confrontada com a inventividade do mundo do rock. O seu autor deveria ser encaminhado para o presente CD do guitarrista norte-americano Scott Fields, que inclui títulos como “Go Ahead, Take The Furniture, At Last You Helped Pick It Out” ou “Yeah, Sure, We Can Still Be Friends, Whatever”. Os títulos são todo um programa mas, nas notas que acompanham o disco Fields vai mais longe e dá a entender que não só é amargo como rancoroso.
A música deste disco de estreia do Freetet é menos vitriólica do que as palavras levariam a supor e tem uma forte componente de improviso. Fields prescinde dos pedais e parafernália com que habitualmente se faz acompanhar e liga a guitarra directamente ao amplificador. O seu propósito, diz, é “criar um universo sonoro monocromático”. O objectivo foi atingido, pois o ouvinte menos atento pode chegar a meio do disco com a sensação de a faixa 1 se ter estendido por 30 minutos. A monotonia quebra-se na segunda metade: em “Your Parents Must Be Just Ecstatic Now” passa-se das recriminações azedas à louça partida, “I Was Good Enough For You Until Your Friends Butted In” marina em melancolia avinagrada e “You Used to Say I Love You But So What Now” fecha em beleza esta meia dúzia de canções de amor confitadas em bílis. Apesar do mau feitio, Fields tem a cumplicidade de um duo rítmico buliçoso, fracturado e conspirativo, com o contrabaixista alemão Sebastian Gramss e o baterista português João Lobo, que passou num ápice do estatuto de “jovem promessa” ao de “valor seguro”.

Time Out Lisboa review by José Carlos Fernandes

cf-1031The Empty Cage Quartet – Stratostrophic (CF 103)
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O nome deste quarteto de Los Angeles é enganador, pois a gaiola está longe de estar vazia. Lá dentro esvoaçam ideias variadas e originais, algumas bem esdrúxulas. Há um pouco de tudo: há um tema que se alonga por 17’24 mas também um que se consome em 0’24, momentos de liberdade sem peias e de cuidadoso entrosamento, de sarcasmo e de melancolia, de frenesim e introspecção. “Old ladies” é um bebop alucinado que leva a crer que as velhas senhoras não se limitam a comer scones e tomar chá de camomila, “Steps of the Ordinarily Unordinary” uma marcha entre o jocoso e a solenidade fingida, “Aurobindo” uma elegia subaquática. “Again a Gun Again a Gun Again a Gun” é uma fanfarra engasgada que nunca chega a acordo com uma bateria hiperactiva. “We are all tomorrow’s food” começa com sopros e contrabaixo meditativos mas a agitação desusada e incansável da bateria acaba por contagiar os outros instrumentos e levar mesmo o clarinete ao paroxismo.
O que salta aos ouvidos nesta mini-Babel sonora é o trabalho de conjunto – não há aqui lugar para heróis do solo quilométrico. A autoria dos temas é repartida entre Jason Mears (sax alto e clarinete) e Kris Tiner (trompete e fliscorne), mas os contributos de Ivan Johnson (contrabaixo) e Paul Kikuchi (bateria, percussão e electrónica) são insubstituíveis. A riqueza tímbrica é notável para um grupo desta dimensão, graças às inventivas combinações entre Mears e Tiner, ao recurso ao arco pela parte de Johnson e à alargada paleta percussiva e aos gadgets de Kikuchi.
O Empty Cage Quartet já tinha discos gravados em discretas etiquetas que não se costumam ver por cá. É bem-vinda a sua divulgação pela mão da Clean Feed e aguarda-se com expectativa a próxima gaiola cheia de música de plumagem variegada.

Time Out Lisboa review by Jose Carlos Fernandes

Lisboa, capital mundial do jazz
Os nova-iorquinos já o admitiram. Resta espalhar a notícia entre os lisboetas: algum do melhor jazz contemporâneo tem o selo Clean Feed.
Se eu afirmar que uma das melhores editoras de jazz do mundo, que está a fazer pelo jazz de hoje o mesmo que a mítica Blue Note fez pela vanguarda dos anos 50 e 60, tem a sua sede na Rua do Alecrim, a uns passos do Tejo, vão talvez olhar-me como lunático ou julgar que estou a levar longe demais o espírito Time Out Lisboa. Em Portugal é frequente que o reconhecimento das qualidades do que por cá se faz só ocorra quando alguém “lá fora” faz o elogio. Assim, se eu acrescentar que a Clean Feed foi eleita como uma das melhores editoras de jazz de 2007 em todo o mundo pelo jornal All About Jazz, de Nova Iorque, e que tem distribuição na França, EUA, Polónia, Noruega, Espanha, Japão, Itália, Alemanha, Canadá, Austria, Suiça e Inglaterra, talvez a frase de abertura comece a soar menos descabelada.
Pedro Costa, um dos mentores da editora, não se mostra muito surpreendido com o galardão da All About Jazz, “porque foi por achar que a Clean Feed poderia ter um percurso interessante e uma palavra a dizer em termos de edição internacional que tudo começou”. O que Pedro Costa não esperava foi o ímpeto que a Clean Feed ganhou: “Pensei que iriamos demorar décadas a chegar a este patamar se é que alguma vez isso iria acontecer. A coisa tem acontecido progressivamente, no primeiro ano editamos 2 discos, no segundo 6, no terceiro 9, no quarto 14, no quinto 21, no sexto 21 também e 33 em 2007”. O que é ainda mais notável é que esta cadência não tem comprometido a elevada fasquia de qualidade, como se pode comprovar ouvindo a última fornada.
O MI3 que está por trás de Free advice (*****) não tem Tom Cruise no elenco nem é a divisão da Millitary Intelligence britânica dedicada à investigação da música subversiva e desviante. Senão teriam de se prender a si mesmos, pois a música que praticam nem por um momento se conforma à ortodoxia e aos bons costumes. O cerne dos MI3 é o pianista grego (radicado nos EUA) Pandelis Karayorgis, que conta com a cumplicidade dos conhecidos Nate McBride (contrabaixo) e Curt Newton (bateria). A música dos MI3 é feita de esquinas abruptas, vazios imprevistos e construções que se diriam saídas de O Gabinete do Dr.Caligari. O piano angular e enérgico de Karayorgis é obviamente devedor das influências dos grandes mestres Thelonious Monk e Cecil Taylor (há quem complete a Pianíssima Trindade com Paul Bley, de quem Karayorgis foi aluno). Os temas de Free Advice são da autoria do pianista, mas há lugar para dois temas de Ellington e “Ankhnathon”, uma peça alicerçada sobre uma hipnótica sequência de cinco notas na mão esquerda, de outro pianista requintadamente esdrúxulo – Sun Ra.
Após Interface (também na Clean Feed), um CD em trio de tremenda intensidade, gravado em 2003 no Teatro Gil Vicente, em Coimbra, o saxofonista norte-americano Steve Lehman regressou à Lusa Atenas, para registar Manifold (****), mais um fortíssimo disco ao vivo, novamente no âmbito do festival Jazz Ao Centro. O local foi desta feita o Salão Brazil e a companhia é da trompete de Jonathan Finlayson, do contrabaixo de John Hebert e da bateria de Nasheet Waits. Manifold é prejudicado pela acústica dura e estridente de uma sala que já deslustrara um pouco o magnífico CD do colectivo Four Corners, gravado no mesmo local (e também editado pela Clean Feed). Mas a acústica ingrata é um detalhe face à insuportável má-educação do público, que tagarela incessantemente como se estivesse num botequim e abate ingloriamente uma estrela à cotação do CD.
Dance of the soothsayer’s tongue (****), do New York Quartet do trompetista Dennis González, também testemunha um concerto em que a gravação não fez inteira justiça à performance. Desta vez a culpa não foi da acústica nem do público, mas de falha técnica, que fez com que ficassem registados apenas 34 minutos do concerto em 2003, no clube Tonic, em Nova Iorque. A instância da Clean Feed, González e o baterista Mike Thompson entraram em estúdio para complementar o que se salvou do Tonic. A singela formação trompete + bateria é bastante arriscada, mas os duetos não desmerecem da música registada no Tonic, em quarteto, com o sax tenor de Ellery Eskelin e o contrabaixo de Mark Helias. Num grupo do gabarito deste NY Quartet de González é difícil destacar um músico, mas seria injusto omitir que Mike Thompson prodigaliza ao longo do CD uma assombrosa masterclass de percussão.
Tony Malaby estreia-se na Clean Feed com Tamarindo (****). Malaby tem sido sideman regular de George Schuller, Mario Pavone, Satoko Fuji, Tom Varner ou Angelica Sanchez e já possui apreciável discografia em nome próprio. Apresenta-se agora em trio com William Parker no contrabaixo e Nasheet Waits na bateria. Estes dois portentos asseguram uma secção rítmica nervosa, irrequieta, borbulhante, que corre como uma torrente impetuosa semeada de turbilhões que se fazem e desfazem num ápice, e sobre a qual voga o saxofone (soprano ou tenor) de Malaby. O CD encerra com um tema de muito alta tensão, “Floating Head”, que acabará seguramente por converter os indecisos.
Para concluir convém dizer que a Clean Feed não se limita a produzir rodelinhas prateadas – embala-as em originais caixinhas de cartão de design esmerado, que são um deleite para quem também ouve com os olhos e os dedos.

Time Out Lisbon reviews by Jose Carlos Fernandes

cf095Mário Barreiros Sexteto Dedadas (A Chave do Som) **
João Lencastre’s Communion One (Fresh Sound New Talent) ***
Júlio Resende Da alma (Clean Feed/Trem Azul) ****
Três álbuns de estreia portugueses, um de um músico e produtor com longa experiência (Barreiros) e dois de jovens talentos (Lencastre e Resende), dão conta de um momento animado no jazz nacional.
Ao jazz já chamaram “the sound of surprise” mas Dedadas, de Mário Barreiros, é a previsibilidade feita disco. O CD tem sete temas mas o sexteto poderia, com a mesma tranquilidade e competência, ter produzido 70. “Juvenal” parece querer quebrar o morno embalo, mas é um momento passageiro. Logo se regressa à amena cavaqueira e quando, quase a fechar, o tema “Dedadas” se abalança ao paroxismo, este soa a falso.
One, do grupo Communion, liderado pelo baterista João Lencastre e gravado ao vivo no Hot Clube, é outra coisa, em boa parte por “culpa” de um pianista de nível superior, Bill Carrothers, que literalmente “rouba o espectáculo”. Já Phil Grenadier (trompete) raramente está à altura dos pergaminhos. É pena que o crédito amealhado, muito por mérito de Carrothers, em “Lonely woman” e “Summertime” seja dissipado na banalidade de “New World” (de Björk) e “108” (com Carrothers mais apagado).
Em Da Alma, do pianista Júlio Resende, está presente algo que falta nos outros dois CDs: uma personalidade musical, com algo de seu para exprimir – uma “alma”, se se quiser ir para a metafísica. O quarteto tem João Custódio no contrabaixo e o saxofone está repartido entre Alexandra Grimal e Zé Pedro Coelho e a bateria entre João Lobo e João Rijo. Mas são as composições e intervenções do líder, “moderno” mas sem perder de vista a melodia, que marcam a diferença. Aguarda-se que o futuro traga mais música na linha de “Filhos da revolução” e “Um dia de férias”.

Le Son du Grisli review by Grisli

cf-129Daniel Levin: Fuhuffah (CF 129)
Plusieurs fois convaincant en quartette – malgré quelques préciosités remarquées –, Daniel Levin s’essayait récemment au trio. En compagnie du contrebassiste Ingebrigt Haker Flaten et du batteur Gerald Cleaver, donnait même sur Fuhuffah de radicales preuves d’adéquation au genre.

Entre de grandes plages d’improvisation portée par des convulsions que se partagent les musiciens (Fuhuffah, Wiggle), trouver ici des pièces d’étoffes différentes et assorties : Shape, sur lequel le violoncelliste n’a qu’à discourir sur le canevas agissant de ses partenaires ; Metaphor, qui gagne en intensité à mesure qu’Haker Flaten répète trois notes porteuses ; Hangman, hymne mélancolique que Levin dépose timidement avant de le faire disparaître sur les recommandations d’une conjuration d’archets ;  Open, enfin, morceau d’évidences sur lequel courent et se bousculent de nerveuses et étouffées expérimentations.

On savait la finesse et la discrétion de Cleaver et les promesses de Levin. Fuhuffah, de revenir sur les premières et de voir les secondes se concrétiser. L’option du trio, peut-être.
http://www.lesondugrisli.com/