Monthly Archives: May 2010

Free Jazz review by Stef

Dual Identity – Dual Identity (CF 172)
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A double alto sax front line is quite exceptional, and even more so when both musicians are known for their compositional intricacy and technical mastership … and find each other organically despite their quite different angle of approach to music.The two altos are Rudresh Mahanthappa, whose Indian background is omnipresent in his compositions and improvisations, and Steve Lehman, whose skills can be an asset, but are sometimes also a burden, and quite well illustrated by his two latest albums.

This is not Lehman’s first exposure to more Indian influence, actually, his work with pianist Vijay Iyer in Fieldwork, quite well mirrored the many albums that Mahanthappa and Iyer released together. Now both saxes have found each other in the great company of three musicians of equal skills : Liberty Ellman on guitar, Matt Brewer on bass, and Damion Reid on drums.

The composition of the pieces is almost evenly divided among the two saxophonists, with one by Ellman, and it’s interesting to hear how they move towards each other, despite the easy recognition of the Mahanthappa tracks.

In any case, the tunes are lively, complex but not too much, keeping their human directness and warmth, with great soloing from all musicians. Although I wish they could have been more explosive and daring at times, the delivery is full of soul and emotional depth.

The album is was recorded live at the Braga Jazz Festival, Portugal in 2009. The live audience gives the music even more depth, although for some tracks the applause is mixed out (why? why? have you ever heard a mute audience?).

And these five guys have skills you can only dream of. Brewer and Reid are possibly the less known members of the band, but what a rhythm section! Recommended.
http://freejazz-stef.blogspot.com/

The New York Times review by Nate Chinen

Chris Lightcap’s Bigmouth – Deluxe (CF 174)
A jazz bassist of flexibility and purpose, Chris Lightcap has devoted his roughly decade-long bandleading career to a distinctive format: two tenor saxophones, with bass and drums. On “Deluxe” (Clean Feed), his righteous third album, the saxophonists are Chris Cheek and Tony Malaby, and the drummer is Gerald Cleaver. Also on board are the keyboardist Craig Taborn (principally on Wurlitzer electric piano) and the alto saxophonist Andrew D’Angelo (contributing memorably astringent solos on three tracks). To a great extent this is a steady band, and it shows emphatically in the music. Mr. Lightcap writes tunes rooted in polyrhythm and fleshed out with modal harmony. He often deploys the saxophones in a braided tandem, before giving each a chance to stretch out: Mr. Cheek with his streamlined logic, Mr. Malaby with his woollier line of attack. The songs are suffused with locomotion and informed by choice aspects of West African music. Beyond that “Deluxe” has an uncommonly great sound; it was mixed by the keyboardist Jamie Saft, whose influence only rings obvious on the closer, “Fuzz.” That track runs Mr. Lightcap’s acoustic bass through a black haze of distortion, but the result doesn’t feel like a gimmick. Like most of the album it just works.
http://www.nytimes.com/2010/05/16/arts/music/16play.html?scp=1&sq=%22chris%20lightcap%22&st=cse

Jazz 6/6 review by Rui Duarte

Dual Identity – Dual Identity (CF 172)
Mahanthappa e Lehman são os mais incensados saxofonistas alto da nova geração de músicos de jazz norte-americanos. Ambos com vários projectos musicais em curso, Mahantappa habitualmente mais extrovertido e ligado às suas raízes musicais étnicas; Lehman mais intelectual e com ligações mais fortes à música contemporânea. Em “Dual Identity”, projectam as suas identidades de solistas, saxofonistas, almas musicais gémeas. Identidade dupla mas sintonizada. Num verdadeiro showcase de virtuosismo no domínio da improvisação, os seus sopros entrelaçam-se, dialogam e fundem-se tendo como fundo um trio free-bop muito competente com destaque para o guitarrista Liberty Ellman. O resultado é entusiasmante numa actuação ao vivo.
http://jazz6por6.pt.to/

Jazz 6/6 review by Raul Vaz Bernardo

Dual Identity – Dual Identity (CF 172)
primeiros compassos de “The General” com que abre este CD definem “Dual Identity” como uma obra que apresenta uma música colectiva em que dois sopros nunca se digladiam, procuram antes um consenso tímbrico e improvisacional. Trata-se de dois saxofonistas alto com um sentido rítmico apurado que aproveitando as batidas quase hip hop de Damion Reid se embrenham em blocos melódicos de extrema intensidade. Com timbres muito semelhantes, julgo que cabem a Mahanthappa os solos iniciais em “SMS” e “The General”, pela maior riqueza rítmica à qual não será estranho o seu grande contacto com a tradição da música indiana. “Dual Identity” é um bom CD duma música avançada mas com os pés bem assentes na terra, ou melhor, na tradição dos dois sopradores (oriental e ocidental). Há sempre uma energia que nunca deixa a música num fastidioso combate de notas musicais. O guitarrista Liberty Ellman cumpre bem o papel de base harmónica com os seus acordes atentos. Mais veemente (Mahanthappa) ou mais intelectual (Lehman), eis um jazz de vanguarda estimulante.
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Jazz 6/6 review by Paulo Barbosa

Dual Identity – Dual Identity (CF 172)
Um disco bombástico, um verdadeiro tratado de modernidade no conceito e na performance. Além de inegavelmente inovadora, a extrema complexidade da escrita e o imenso rigor com que é feita a sua leitura deixaram-me simultaneamente rendido e chocado logo numa primeira audição. De forma muito semelhante ao que recentemente se verificou com “Travail, Transformation, & Flow”, pelo octeto de Steve Lehman, toda a música deste álbum parece ser absolutamente relevante, urgente e capaz de, no melhor dos sentidos, perfurar os tímpanos para penetrar profundamente no cérebro (e – para quem a tenha ou nela acredite – na alma) e excitar e desafiar directamente os seus mais profundos recantos. A afinidade e o entendimento que reina entre os dois saxofonistas são perplexantes e os seus contributos individuais não lhes ficam atrás. Matt Brewer e Damion Reid (ambos excelentes músicos que conhecemos de contextos um quanto diferentes deste) constituem aqui uma das secções rítmicas mais alerta e interventivas que ouvi nos últimos tempos. Apenas o guitarrista Liberty Ellman, apesar de difícil de superar no trabalho que realiza na retaguarda dos saxofonistas, raramente atinge um nível semelhante ao de qualquer dos seus parceiros quando salta para a linha da frente. Desejar-se-ia também mais algum primor na qualidade da captação sonora, mas nenhuma destas duas reservas seria capaz de me fazer questionar uma recomendação máxima desta verdadeira obra-prima.
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Jazz 6/6 review by Leonel Santos

Dual Identity – Dual Identity (CF 172)
Devo confessar que as observações que tinha levantado a propósito de algum desequilíbrio entre os dois saxofonistas no concerto do Braga Jazz de há um ano atrás se desvaneceram na audição do disco: trata-se de facto de duas personalidades de formações e origens distintas a construir uma unidade impossível. Notável será que os dois instrumentos na boca da cena sejam dois saxofone alto que retiram partido da dissemelhança das suas personalidades e não do timbre dos instrumentos. Mais cerebral Lehman, mais impetuoso Mahanthappa, à frente de uma secção rítmica seguríssima não propriamente serviçal (onde ressalta o guitarrista Liberty Ellman), constroem outro candidato a um dos grandes discos do ano. Não se trata de uma reedição das saxophone battles, mas da construção de um projecto, uma «identidade», que se suporta pois nas duas personalidades enquanto instrumentistas, mas igualmente num trabalho de concepção escrita notável, longe longe da indigência arrogante de muitos músicos «de vanguarda». Como disse na recensão de um outro disco de Steve Lehman, se existe vanguarda, se existe modernidade, ela passa por aqui.
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Jazz 6/6 review by Antonio Branco

Dual Identity – Dual Identity (CF 172)
Não é novidade para ninguém que Mahanthappa e Lehman são duas das principais forças motrizes do saxofone alto da actualidade. Como improvisadores e compositores da linha-da-frente têm prosseguido abordagens muito próprias, reveladoras de ideais musicais precisas e consistentes. Admirando-se mutuamente, em boa hora os dois músicos resolveram cruzar os seus percursos neste projecto, muito apropriadamente intitulado “Dual Identity”. Gravado ao vivo no festival de Braga do ano passado, este registo mostra-nos à evidência que estamos perante uma perfeita simbiose musical, conseguida não à custa da aniquilação das respectivas características individuais mas sim da criação de uma verdadeira plataforma comum de interacção, o que ressalta claro em peças como “The General”, “Circus” ou nesse magnífico mano-a-mano que é “Dual Identities”. O excelente guitarrista Liberty Ellman é trazido para o olho do furacão na mais etérea “SMS”. Peças como “Katchu” e “Resonance Ballad” revelam uma escrita de filigrana, atenta ao ínfimo detalhe. Brewer (sempre seguro e inventivo, ouça-se o solo que abre “1010”) e Reid formam uma dupla rítmica perfeitamente à altura do desafio. Emanando energia e vitalidade criativa ímpares, “Dual Identity” é um disco a todos os títulos imperdível.
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Jazz 6/6 review by Manuel Jorge Veloso

Dual Identity – Dual Identity (CF 172)
Tenho a perfeita consciência de que algumas das críticas reticentes ou mesmo negativas que hoje verto em Jazz 6×6 em relação a certos discos que este mês nos couberam colectivamente avaliar, vão marcadas por algum azedume quiçá ligado à falta de paciência deste velho maniento e rabugento, sempre em vésperas de retirada e descansada reforma.

O certo é que me custa sobretudo ver o talento desaproveitado e como que até refreado pelos próprios criadores de quem tanto sempre espero e que às vezes (felizmente poucas) me deixam desiludido e perplexo com obras cuja qualidade é apenas mediana mas podem surgir aos ouvidos mais incautos, até por um fenómeno de moda, como a maior das descobertas e invenções.

Ao contrário, não tem até agora acontecido esse tipo de desilusão a propósito das obras discográficas de dois músicos que nos últimos anos dei por mim a admirar e que curiosamente incorporam nas suas estéticas alguns dos traços mais inovadores do jazz actual: os saxofonistas Steve Lehman e Rudresh Mahanthappa.

Por exemplo, a presente gravação que é o resultado da feliz e oportuna edição em disco pela independente portuguesa Clean Feed da música que foi tocada em palco pelo Quinteto Dual Identity no festival Braga Jazz do ano passado, ao qual tive o gosto de assistir, preserva no presente e para futuro um dos mais importantes concertos realizados entre nós em 2009 e ao mesmo tempo um dos mais estimulantes exemplos de como o jazz está constantemente inquieto na sua multíplice evolução.

Como tive oportunidade de escrever a propósito desse mesmo concerto, é preciso «reconhecer que o nome-de-guerra Dual Identity é, de facto, um achado de aguda oportunidade (e, ao mesmo tempo, uma panóplia de significados e um mundo de potencialidades), pelas múltiplas vertentes que logo à partida possibilita. Em primeiro lugar, porque associa na “frente de sopros” dois saxofonistas de primeiríssima água: o cada vez mais maduro e soberano Steve Lehman e o sempre aventuroso e surpreendente Rudresh Mahanthappa; depois, porque, tocando ambos sax-alto (mas buscando e encorpando o som de forma inteiramente diversa), essa identidade dual mais facilmente se constrói (e ao mesmo se desconcerta e conflitua) na permanente e criativa interacção dos dois grandes músicos (…), de ambos com os restantes três companheiros de palco (…); e finalmente, ideal dos ideiais, de todo o quinteto com o próprio público! Melhor ainda: essa tal identidade dual, assim entendida, não é susceptível de desvendar-se, apenas, a um nível puramente instrumental (a face mais audível, material e imediata dos dois saxofonistas), o que nos leva a poder imaginar que, tivessem estado lado a lado um tenor e um alto, e jamais a dualidade teria sido esta mas sim outra! Mas ela deixa-se descobrir, ainda, em termos conceptuais, fornecendo sempre adubo a um terreno movediço, por vezes aplanado num aparente continuum em largas passagens de uma música altamente rigorosa e estruturada, outras vezes eriçado, nas escolhas e pelos escolhos individuais e colectivos, através de desbragadas improvisações sem fim à vista, crescendi de grande intensidade e à beira de entusiasmantes situações de climax, naquela que foi a revelação e a explanação de uma outra e nova forma de disseminar a acumulação de uma cultura jazzística específica e inequívoca, com as suas várias tradições, e ainda capaz de integrar, de forma dispersa, sinais de culturas-outras, como a judaica ou a hindú, que também estão nos genes desta Dual Identity.»

Sentindo-me incapaz de reformular de forma diferente o que então de forma assim convicta expressei sobre este concerto (agora tornado disco), aconselho o leitor a debruçar-se sobre o que de novo e diferente os meus caríssimos colegas de Jazz 6×6 terão aqui ao lado para dizer.
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Jazz 6/6 review by Raul Vaz Bernardo

Bernardo Sassetti Trio – Motion (CF 177)
O pianista Bernardo Sassetti é um artista completo. Não apenas um pianista, muito menos aquilo a que se convencionou designar por um pianista de jazz. É verdade que Sassetti começou pelo jazz, mas, hoje em dia é um músico que não quer espartilhar-se nessa etiqueta. Também é um artista que se revê em muitas outras artes para além da música. Parece que o último concerto de Sassetti, a que feliz ou infelizmente não assisti, foi um espectáculo multimédia, com recurso a processos doutras artes. Na presença do CD o que é que me resta? Tentar embrenhar-me no sonho de Sassetti embalado apenas pelas notas da música, sem recurso a outros atractivos sensoriais. E, nesse estrito campo, a obra não me deixa muito satisfeito. Falta-lhe o dinamismo que os viciados de jazz esperam, vive-se muito o efeito contemplativo do piano tão de moda. Efeitos que, hoje em dia, um Jarrett recusa, ainda que adoptados por outro génio do piano, Mehldau. Em ‘Bird and Beyond’ surge, aos meus ouvidos, uma clara recusa de Sassetti e seus músicos de evitar um “groove” jazz. A obra finda-se com um belo tema de Frederico Mompou com a intercepção do belo bolero ‘Historia de un Amor’.
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Jazz 6/6 review by Paulo Barbosa

Bernardo Sassetti Trio – Motion (CF 177)
Apesar do afastamento das edições discográficas, a continuada actividade deste trio em concerto reflecte-se de forma muito clara neste álbum. Sassetti, Barretto e Frazão evidenciam um supremo entendimento a três, um nível de comunicação que roça o telepático, acessível apenas a grandes músicos. Sassetti é um irremediável romântico e é essa a faceta do pianista que, mais ainda do que a sua inspiração na imagem e no cinema, conduz de forma mais determinante este novo registo. Para estes ouvidos, é exactamente nos temas mais líricos e emotivos – que constituem uma boa parte do álbum – que fica expresso o saudável apuramento da fórmula há quase uma década encetada com “Nocturno”. Há, no entanto, dois motivos de apreensão: 1) a opção de, por mera graça, se deitar a perder um belíssimo blues como “Revival” através da sua apresentação com uma qualidade sonora característica de uma emissão em onda média e 2) o “minimalismo repetitivo” (que ao vivo, mas nem tanto no disco, tende a tornar-se infindável) aqui presente no não por acaso intitulado “Movimento Circular” (ladeado pela excelente magia de “Reflexos”) ou, apesar da brilhante introdução a cargo de Alexandre Frazão, em “Bicubic”. Se bem que capaz de seduzir uma vasta faixa de ouvintes mais “casuais”, esta repetição de frases e motivos demasiado óbvios dificilmente poderá garantir o interesse por parte dos mais fiéis seguidores deste trio, os quais não estarão muito interessados no desgaste da fórmula, mas antes em continuar a ouvir o Sassetti que, felizmente, ainda se reencontra e redescobre em grande parte deste álbum.
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