Daily Archives: June 24, 2013

Jazz.pt review by António Branco

CF 270Ches Smith and These Arches: “Hammered” (CF 270)
Rating: 5/5
Quase três anos depois de um altamente estimulante “Finally Out of My Hands”, na Skirl Records, o baterista Ches Smith volta a reunir o seu projeto These Arches para um disco arrasador.   E isso em grande medida se fica a dever ao alargamento da formação de quarteto para quinteto, com a entrada de um peso pesado do jazz do nosso tempo: Tim Berne. Tudo por uma feliz conjugação de circunstâncias: devido a um conflito de agendas, Tony Malaby viu-se perante a impossibilidade de seguir em digressão com a formação. Para o seu lugar entrou Berne. Com Malaby de novo livre, Smith decidiu adaptar a música ao facto de ter dois sopros (e que sopros!) disponíveis.

No barco mantiveram-se a guitarrista Mary Halvorson e a acordeonista e manipuladora de eletrónica Andrea Parkins. Não só o leque sonoro se abriu com a entrada do saxofonista alto como a própria escrita de Smith evoluiu com base nessa premissa, revelando uma vertente mais contrapontística e a tirar maior partido do xadrez instrumental.   Em “Hammered” – por si só o título quer dizer muita coisa – Smith continua a explorar terreno que lhe tem sido fértil (Good for Cows, Congs for Brums, Secret Chiefs 3, Xiu Xiu): o do cruzamento criativo de elementos provenientes do jazz, da música improvisada e do rock de cariz mais experimental.

Muitas destas peças foram escritas para banda de rock, mas beneficiam claramente por estarem a ser tocadas por este notável grupo de mestres improvisadores. Energia, liberdade e urgência são ingredientes essenciais neste “cocktail” explosivo. Ainda que as rampas de lançamento estejam estruturadas, é evidente o ênfase colocado na improvisação coletiva, o que, com esta mão de obra, faz todo o sentido.

Baterista de largo espetro, Smith sabe ser o fogueiro que alimenta a fornalha para garantir a adequada propulsão, mas também o joalheiro dos finos detalhes. “Frisner” (referência ao baterista haitiano Frisner Augustin, antigo professor de Smith e falecido inesperadamente no início do ano passado) abre as hostilidades em alta rotação e dá o mote para o que vem depois. Impertinência rítmica, sopros em delicioso mano a mano, guitarra e eletrónica pontuando com inteligência esta dança garrida.

Na mesma linha vigorosa segue-se “Wilson Phillip”, homenagem a outro baterista, Phillip Wilson. Escrita para os Ceramic Dog de Marc Ribot, “Dead Battery” acentua as contribuições de Halvorson e Parkins, que se aliam à frente de sopros numa vertigem febril.

Na peça título todos os instrumentos se fundem numa massa caleidoscópica que recircula. Em contraste, “Limitations” é uma miniatura quase sussurrada e de “Learned from Jamie Stewart” (piscar de olho ao vocalista dos Xiu Xiu) brota um bem vindo “groove”. “This Might Be a Fade Out” fecha a refrega numa alternância entre caos e ordem, sobrevindo esta.

“Hammered” não deixa pedra sobre pedra. Excelente.
http://www.jazz.pt/ponto-escuta/2013/05/01/ches-smith-and-these-arches-hammered-clean-feed/

Jazz.pt review by António Branco

CF 275Lama & Chris Speed – Lamaçal (CF 275)
Rating: 4/5
A síndrome do segundo disco é um problema que, sabemo-lo, afeta muitos projetos. Criadas expetativas na estreia, as mesmas, tantas vezes, não conhecem continuidade, ditando o esquecimento. O inverso acontece, porém, com o trio – baseado em Roterdão – formado pelos portugueses Susana Santos Silva e Gonçalo Almeida e pelo canadiano Greg Smith. Aliados ao experiente saxofonista e clarinetista norte-americano Chris Speed, não só confirmam como ampliam neste segundo registo as virtudes expostas na estreia, há dois anos, com o excelente “Oneiros”.

“Lamaçal” concretiza uma parceria que se revela muito conseguida e com a qual, de facto, a formação expande consideravelmente o espetro de soluções disponíveis, dando notáveis passos em frente.   Gravado ao vivo na 10.ª edição do Portalegre Jazz Fest, em 2012, o novo disco volta a revelar movimentações de miscigenação entre elementos de vários domínios das músicas criativas, apostando como elemento essencial das suas construções sonoras numa criteriosa utilização de “loops” e efeitos eletrónicos, que se fundem de forma natural e inteligente com os instrumentos acústicos.   Apesar de Gonçalo Almeida se assumir como principal compositor, todos os restantes músicos também assinam peças concetualmente dominadas pelo imaginário ligado ao mar e a idiossincráticas criaturas que nele habitam (a exceção será o festivo “Pair of Dice”, original de Speed).

“Overture for A Wandering Fish” (da autoria da trompetista) abre em tom solene, escutando-se ruminações vindas das profundezas, seja via sopros ou contrabaixo processado. A peça que dá título ao disco exibe vivos diálogos entre o trompete e o clarinete (depois saxofone tenor), assentes na efervescência controlada da secção rítmica.

Introduzida por sons que evocam os emitidos pelos cetáceos (linguagem estruturada que o Homem praticamente desconhece), a bela melodia de “Moby Dick” revisita a personagem central do revolucionário romance de Herman Melville, com Almeida desenvolvendo graciosas figuras e Smith laborando com minúcia.

“Cachalote”, de Smith, é introduzida por este, seguindo-se uma altiva intervenção de Speed em tenor, que desemboca em vigorosos uníssonos. O tom enérgico desvanece-se e tudo termina serenamente. “Anémona” constrói-se em torno de um belo ostinato de contrabaixo e a melodia hipnotizante de “Manta” transporta o ouvinte para a tranquilidade silenciosa dos fundos abissais.

Uma excelente proposta que reforça o superlativo interesse deste projeto.
http://www.jazz.pt/ponto-escuta/2013/05/08/lama-chris-speed-lamacal-clean-feed/

emusic review by Dave Sumner

CF 271Ellery Eskelin – Mirage (CF 271)
Eskelin has been having a strong 2013, having contributed to some of the better releases this year (albums by Ben Goldberg and Harris Eisenstadt immediately spring to mind). Now, back with an album as session leader, the veteran saxophonist displays his perpetually intriguing sound of experimental music with a deep lyricism. For this recording, it’s a trio of Ellery Eskelin (tenor sax), Michael Formanek (double bass) and Susan Alcorin (pedal steel guitar), and the resulting music is an intoxicating, moody type of avant-garde… music for the quiet moments of the day, but which engages the ear with no little passion. Highly Recommended.
http://www.emusic.com/17dots/2013/06/19/new-jazz-this-week-with-jim-black-ellery-eskelin-bill-frisell-more/

All About Jazz Italy review by Angelo Leonardi

CF 276Harris Eisenstadt September Trio – The Destructive Element (CF 276)
Valutazione: 4.5 stelle
Nato nel 2010 il September Trio è una delle formazioni più emozionanti del jazz attuale. Ha inciso il primo disco omonimo l’anno successivo per la Clean Feed ed ora presenta questo nuovo lavoro, registrato ancora per l’etichetta portoghese il 29 e 30 settembre 2012 a Portalegre. Alla fine di giugno compirà un mini tour europeo con una data a Poznan in Polonia e due in Italia, invitato dal Sudtirol Festival: il 30 a Bolzano e il 1° luglio a Merano. Inutile evidenziare l’importanza degli appuntamenti. Harris Eisenstadt è un nome ancora poco noto nel nostro Paese, nonostante abbia inciso 14 dischi da leader e molti altri in progetti e collaborazioni di rilievo. Batterista e compositore, s’è distinto in particolar modo per l’originalità di scrittura, che si esplica in temi eclettici e ricercati, in una sintesi suggestiva con le avanguardie storiche degli anni sessanta. In questa formazione la sua estetica trova ampia concordanza con quella dei suoi partner. Eskelin in particolare ha recentemente accentuato (si veda il trio con l’organista Gary Versace e il batterista Gerald Cleaver) l’adesione ai valori “classici” del sax tenore, valorizzando maggiormente il suo magnifico timbro che rivela suggestive assonanze con Gene Ammons, Sonny Rollins e persino John Coltrane.

Se il disco d’esordio September Trio, privilegiava anomale ballad dai colori crepuscolari e sottili equilibri timbrico/melodici, qui troviamo ampia varietà di forme e riferimenti espressivi. Già il brano d’apertura “Swimming, Then Rained Out” si distanzia rapidamente dall’intimo lirismo iniziale per svilupparsi con veemenza e passione nel lungo intervento di Eskelin. Dopo un ulteriore passo in questa direzione, con riferimenti a Coltrane e alla stagione del free storico, la prospettiva muta con il primo dei due omaggi a Schoenberg. I temi s’ispirano al “Concerto per violino e orchestra” del compositore viennese con soluzioni avvincenti (soprattutto la seconda parte) e momenti d’intenso interplay. Il prosieguo del disco è ispirato e vario: Angelica Sanchez evidenzia tutto il suo valore nei ricercati e intensi sviluppi di “Cascadia” – una delle gemme del disco – , Eisenstadt sembra raccogliere la lezione di Paul Motian anche nel sostegno prezioso e antispettacolare. Anche se questi è nominalmente il leader, risulta piuttosto evidente la natura paritaria della formazione che interagisce con i percorsi tematici trovando inventive soluzioni. Un chiaro esempio è “Here Are the Samurai”.

Un percorso in equilibrio tra lirismo, passione e lucide soluzioni formali, dove la distinzione tra improvvisazione e composizione non ha più ragione d’esistere. Vivamente raccomandato.
http://italia.allaboutjazz.com/php/article.php?id=9207

Le Son du grisli review by Guillaume Belhomme

clean feed made to break layout TEXTO DIFERENTE - ROJOMade to Break – Provoke (CF 273)
Dans le texte imprimé à l’intérieur de Provoke, Ken Vandermark explique les origines de son nouveau (2011) projet, Made To Break : méthodes de composition développées au sein de FME et The Frame Quartet – pour plus de précision : influence de Nate McBride, est-il écrit – associé à un goût pour le funk qu’avait déjà révélé le souffleur en Spaceways Inc. ou Powerhouse Sound.

Enregistré à l’occasion des concerts organisés à Lisbonne pour le dixième anniversaire de la maison Clean Feed, Provoke expose des patchworks aux pièces disparates : la présence de Devin Hoff n’étant pas celle de McBride, il arrive au groupe de pâtir d’une rusticité contre laquelle l’électronique de Christof Kurrzmann, pourtant astucieuse, ne peut rien. Alors, le saxophone se contente, à sa façon, de rebondir sous les coups que Tim Daisy porte à sa batterie.

Mais au mitan – et pour un tiers de concert quand même –, l’harmonie point. Sur une boucle lente dont l’allure entraîne la clarinette basse, Hoff est invité à plus de discrétion et voici le funk étouffé. La musique gagne en envergure et son atmosphère est maintenant inquiète et pénétrante. Malheureusement, de passage seulement ; on ne doute cependant pas que Made to Break puisse mieux faire…
http://grisli.canalblog.com/